Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o SENHOR. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito. Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo. (Êx 12.12–14).
No decorrer dos tempos, a páscoa passou
a ser moldada de acordo com as necessidades efêmeras da humanidade. Para
muitos, essa data tão especial tornou-se apenas sinônimo de consumismo comercial,
feriado, superstições vazias e até mesmo secularismo, afastando-se, assim, da
sua essência fidedigna. Então, qual é o real significado da pascoa? E para
responder a esta pergunta, devemos extrair a resposta a partir do seu lugar de
origem que é a Palavra de Deus.
Um dos objetivos do livro de Êxodo é
relatar a saída do povo hebreu do Egito após 400 anos de escravidão. A
narrativa mostra que o Senhor Deus, em sua infinita graça, decidiu libertar o
seu povo das mãos de Faraó. Moises e Arão foram comissionados para serem os
mensageiros dessa libertação. Quando finalmente o povo de Israel iniciou sua
jornada para sair do Egito, Deus instituiu a pascoa, e conforme nos mostra
Êxodo 12, também o seu real significado.
Em primeiro lugar, a pascoa é a certeza de um recomeço (Êx 12.1-2).
O Senhor Deus havia dito que o mês da partida seria o principal dos meses para
o povo hebreu, o qual tornou-se um marco temporal para um novo começo. Esse
“primeiro mês” do ano é o equivalente aos nossos meses de março-abril, chamado
de mês de “Abibe” (Êx 13.4), e depois, no tempo do exílio, ficou conhecido como
mês de “Nissã” (Ne 2.1). A
Páscoa, portanto, era uma festa de ano novo, de uma nova vida, de escravos
libertos e de uma nova história a ser vivida.
Sendo assim, podemos afirmar que essa data tão especial também é a
certeza de que, em Cristo, há um novo começo. Quando Jesus ressuscitou ao
terceiro dia, em um domingo de páscoa, deu a muitos a certeza de uma nova
história redentiva que é interminável e imutável. Como disse o Apóstolo Paulo: se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas (2Co 5.17). Portanto, Cristo na pascoa é a certeza de um
recomeço.
Em segundo lugar, a
páscoa é a certeza de um sacrifício eficaz (Êx 12.3-13). Por ocasião da
decima praga anunciada contra os egípcios, na qual as vidas dos primogênitos
seriam ceifadas, o Senhor havia ordenado que, no décimo quarto dia daquele
mês, cada família tomasse um cordeiro para que fosse imolado, cujo sangue deveria
ser passado nos umbrais das portas para livra-los do juízo de Deus, e cuja
carne fosse repartida para alimentar as famílias e os agregados (Êx 12. 4,8-9).
Eles comeriam com a certeza da libertação, porque naquela noite Deus executaria
seu juízo sobre os egípcios e os seus deuses, mas não sobre o seu povo, porque
o sangue do cordeiro estaria nas portas (Êx 12. 11-13). Os hebreus receberam as
instruções; agora, o povo precisava exercer sua fé de que Deus cumpriria o que
prometeu. Pela fé, eles precisavam abater o cordeiro. Pela fé, eles precisavam
confiar no Senhor. O sangue era o testemunho da fé nas promessas e no poder
redentor de Deus.
E assim o fizeram. Por isso, essa ocasião ficou conhecida como páscoa, em
hebraico Pessach (פֶּ֥סַח) que significa
“passagem”, pois, por causa de um sacrifício eficaz, o Senhor “passou” por cima
das casas dos filhos de Israel no Egito, livrando-os da morte (Êx 12.27). A
páscoa (pessach) também era a certeza de que o povo de Deus passaria do Egito
para Canaã, da escravidão para liberdade.
E assim foi o sacrifício
de Cristo, um sacrifício divinamente instituído e plenamente eficaz. Jesus
morreu como cordeiro pascal e o seu sangue derramado foi suficiente para livrar
do pecado e da morte eterna aqueles que são seus (Mt 26.28; Ef 1.7; Ap 1.5). Ele
é o alimento espiritual que pode saciar a vida do homem completamente (Jo 6.
54-56). Quando participam da santa ceia, os crentes fieis e verdadeiros celebram
e recordam-se do sangue que foi derramado e do corpo que foi dado por Jesus na
cruz em favor deles (Mt 26.26-28). E essas verdades são as “boas-novas” de que
não há mais escravidão ou condenação, pois a obra de Cristo é a certeza de uma
liberdade infindável (Is 42.7; Lc 4.18);
E em terceiro lugar, a páscoa
é a certeza de uma celebração perpétua. O Senhor havia dito que aquele dia perduraria
como memorial e celebração solene entre as gerações (Êx 12. 14; 24-28). Até os
dias de hoje, a páscoa é comemorada entre os judeus. A memória da libertação do
Egito ainda é vívida. Parte de um cordeiro morto ainda alimenta as famílias
juntamente com ervas amargas e pães sem fermento.
Contudo, é importante ressaltar que os cristãos não celebram a páscoa da
mesma forma que os judeus. O apóstolo Paulo revelou que todas as festas em
Israel, inclusive a páscoa, eram apenas sombra das coisas que viriam e seriam
cumpridas em Cristo (Cl 2.16-17). Sendo assim, para nós, a páscoa apenas
simboliza o sacrifício de Jesus, o cordeiro santo, fazendo-nos lembrar que, somente
por ele, a morte eterna não terá eficiência sobre nós; e que nele temos a
certeza da passagem, não do Egito para Canaã, mas da morte para a vida, da
inimizade com Deus para uma vida de comunhão eterna com ele (Rm 8). Essa sempre
será a nossa celebração, passada de geração em geração.
Destarte, em meio a muitos significados deturpados acerca da páscoa,
podemos afirmar que essa data tão especial tem o seu cumprimento eficaz em
Jesus Cristo, a sua obra na cruz do calvário a os seus efeitos, sendo esse o
real significado da páscoa.
Rev. Pedro Matos